segunda-feira, 8 de outubro de 2012

moderno e modernidade

Conceitos de Modernidade
O surgimento da categoria modernidade como processo histórico-social, tem inicio no mundo ocidental a partir do século XVIII. A propagação das idéias iluministas, como o uso da razão e a emancipação do homem em relação às leis divinas, foram fatores representativos que ilustraram e caracteriza esse período. Não existe consenso entre os historiadores em relação à demarcação do inicio da modernidade, alguns afirmam que desde a expansão marítima, a Europa de certa forma, já estava dentro dela.
A ruptura para com os valores arcaicos, também é outra característica da modernidade, tudo aquilo que era tradicionalmente inquestionável, passa a ser plausível de discussão, ou seja, no começo da modernidade, a razão iluminista estava na moda.
Utilizamos muitas vezes a noção de modernidade associada à de progresso. As raízes dessa comparação, talvez esteja no fato de que os desenvolvimentos científicos, juntamente com a idéia de liberdade e igualdade entre os homens, emanciparam o homem europeu da submissão as leis naturais e divinas.
O conceito de "pessoa" nesse período, passa a ser substituído pelo de "individuo", teoricamente assim todos os homens passaram a ter os mesmos direitos jurídicos. Essa substituição foi essencial para a propagação dos valores liberais, que tinha como uma das missões, inserir no plano econômico, o livre comércio.
Mudanças bruscas aconteceram no ocidente durante a modernidade, principalmente nos planos culturais, artísticos, econômico, religioso, político. Talvez esse seja o fator que nos faz associá-la sempre a idéia de ruptura e de novidade.
Muitas pessoas, quando iniciam seus estudos nas artes, tendem a confundir os significados das palavras moderno, modernidade e modernismo, visto que comumente não são passíveis de definições fixas, estando sempre sujeitas a modificações e alterações. Mas os significados destas nomenclaturas são realmente diferentes.
O Moderno
Moderno é o termo usado para indicar algo que é contemporâneo à época da produção. Empregado inicialmente na modernidade (Idade Moderna), esse termo foi muito utilizado para indicar o modernismo (a maneira modernista) e ultrapassou os limites de seu tempo, sendo ainda hoje bastante comum (na nossa contemporaneidade). Isso porque considera-se como moderno tudo que se oponha ao antigo.

A perspectiva moderna começou a se desenvolver quando o conhecimento e a arte se entrelaçaram com o conhecimento científico. Ou seja, algumas obras do período moderno e outras do período contemporâneo podem ser julgadas como modernas, pelo simples fato de simbolizarem o que é presente e atual (em relação ao tempo e ao espaço de sua produção). Da mesma forma é possível determinar algumas outras obras feitas nestes mesmos períodos como não-modernas, por serem retrógradas.

Como entendimento de moderno, tem-se a assimilação de trabalhos que contenham uma nova abordagem, com rompimento de padrões e regras artísticas. Isto é, o abandono de uma arte literal e acadêmica, rumo a novas visões, mais abstratas e menos figurativas. Assim sendo, pode-se resumir o moderno como a representação de “uma atitude específica para com o presente”.

Moderno, Modernidade e Arte Moderna.
Sob essa denominação podem ser considerados, de forma genérica, os variados movimentos artísticos que surgiram do início a metade do século XX, principalmente na Europa. Muitos não chegaram a se organizar enquanto escolas com manifestos e programas, mas outros apresentavam objetivos e teorias definidas previamente. Apesar da variedade de propostas plásticas e teóricas, o diálogo entre estes movimentos era inevitável seja na forma de confronto, ou enquanto influência estética. A grande proximidade com a literatura, cinema e outras manifestações artísticas aumentou a preocupação com os conceitos, as teorias e as idéias que condicionavam e predefiniam a natureza do próprio objeto de arte. O envolvimento político e social de muitos movimentos da arte moderna também refletia a necessidade de compreender as mudanças pelas quais o mundo estava vivendo, como as experiências da 1ª e da 2ª Guerra Mundial, a industrialização e urbanização das cidades, os avanços da técnica e da ciência, o progresso social e as revoluções populares. Esses temas fizeram-se presentes de forma mais direta em algumas vanguardas, enquanto em outras optou-se pela pesquisa da plasticidade e de novas formas de expressão.
A arte moderna acompanhou as mudanças inicialmente propostas pelo Impressionismo e a partir deste ponto assumiu uma posição crítica em relação às convenções artísticas acadêmicas, aos temas oficiais e à própria maneira de se representar a realidade. Entre as variadas linguagens que surgem sob a denominação de arte moderna existia um eixo comum que questionava a representação ilusionística da realidade ao tentar impor a tridimensionalidade ao plano da tela. Esta nova percepção inaugurou o espaço moderno na pintura e a pesquisa aprofundada das cores em seus tons puros, a fragmentação dos objetos e planos, a deformação das figuras e a abstração das formas. A experimentação passou a ser um método de trabalho tanto para as tendências mais "racionalistas" da arte moderna, quantos as "irracionalistas". Devido as especifidades da arte moderna e a multiplicidade de representantes, optamos por uma síntese de cada movimento com seus principais atuantes.

Fauvismo
- grupo de artistas sob a liderança de Henri Matisse (1869-1954) que exploravam as possibilidades das cores em seus tons puros e fortes, sem sombreados, fazendo salientar os contrastes, com pinceladas diretas. A temática não é relevante, não tendo qualquer conotação social ou política. Teve presença marcante na França entre 1905 e 1907 e impacto nas tendências expressionistas.
Artistas: Henri Matisse (1869-1954); André Derain (1880-1954); Maurice de Vlaminck (1876-1958).

Expressionismo - tendência de arte que se desenvolveu na Alemanha, entre 1905 e 1914. Fazia oposição ao impressionismo francês e defendia a expressão que se manifestava do artista para realidade. Vários grupos apresentaram influências expressionistas, mas o mais conhecido foi o Die Brücke ('A Ponte'), criado em 1905 em Dresden. Este grupo definiu os procedimentos e fundamentos do expressionismo alemão. Após os anos 50 é nos Estados Unidos que se encontrará influência deste movimento com o expressionismo abstrato.
Artistas: Vincent van Gogh (1853-1890); Paul Gauguin (1848-1903); Edvard Munch (1863-1944); Georges Rouault (1871 – 1958); Henri de Toulouse-Lautrec (1864-1901).

Cubismo - movimento artístico que tem como marco inicial 1907 quando Pablo Picasso apresentou seu quadro Les Demoiselles d'Avignon, em Paris. O cubismo promove a recusa da arte como imitação da natureza e propõe novas formas geométricas para se visualizar a realidade tendo como objetivo fundamental capturar a estrutura dos objetos, a simplificação das formas, dissociando-as do real.
Este movimento dividiu-se em duas fases: cubismo analítico (1909-1912) com o foco na decomposição dos objetos e planos e no monocromatismo; e cubismo sintético (1912-1913) no qual elementos estranhos à pintura são incorporados às telas criando as colagens.
Artistas: Pablo Picasso (1881 - 1973); Georges Braque (1882 - 1963); Juan Gris (1887 - 1927).

Construtivismo
- movimento de vanguarda com base na Rússia que trata a pintura e a escultura como construções, estabelecendo grandes conexões com a arquitetura em termos de materiais, procedimentos e objetivos. Diretamente influenciado pela revolução de 1917 na Rússia, o movimento discutiu profundamente o papel social da arte e sua produção concreta para sociedade.
Artistas: Vladimir Evgrafovic Tatlin (1885 - 1953); Alexander Rodchenko (1891 - 1956).

Surrealismo
- o termo surrealismo, cunhado pelo poeta André Breton, apareceu no primeiro manifesto do grupo, em 1924, no qual defendiam a valoração do mundo dos sonhos, do irracional e do inconsciente para a produção das obras. Movimento amplo que envolveu literatos, cineastas e fotógrafos e que reforçava o imaginário, os impulsos ocultos e o caráter anti racionalista com base em leitura livre das teorias de Sigmund Freud.
Artistas: René Magritte; Joán Miró; Salvador Dalí; Alexander Calder; Hans Arp (1886-1966).

Dadaísmo
- movimento artístico que não procurou estabelecer programas de ação nem estilos específicos. Tratava-se de uma crítica cultural mais ampla aos modelos e valores culturais e sociais anteriores. Suas manifestações eram pautadas pela desordem, escolhas aleatórias, choque e escândalo. Sua criação data de 1916 quando da criação do Cabaré Voltaire, em Zurique, espaço para as manifestações artísticas variadas. Ficou mundialmente conhecido pelos ready-made de Marcel Duchamp com os quais proferiu uma forte crítica ao sistema da arte.
Artistas: Francis Picabia (1879); Marcel Duchamp (1887-1968); Man Ray (1890-1976).

Suprematismo
- movimento russo de arte abstrata, surgiu por volta de 1913 tendo como principal representante o pintor Malevich e o poeta Maiakóvski. Defendiam a pesquisa profunda da estrutura da imagem com o intuito de se alcançar a “forma absoluta” através de formas geométricas básicas associadas a uma pequena variação de cores. Em 1918, Malevich declara o fim do movimento por esgotamento do projeto inicial.
Artista: Kazimir Malevich (1878-1935).

Neoplasticismo
- movimento associado às novas propostas plásticas de Mondrian e Doesburg apresentadas pela revista De Stijl (O Estilo) criada pelos dois artistas holandeses em 1917. Buscavam uma nova forma de expressão baseada em elementos mínimos como a reta, o retângulo e as cores primárias, além do preto, branco e cinza. A redução da plasticidade rejeitava os princípios da tridimensionalidade no espaço pictórico, as linhas curvas e as texturas. A revista e o movimento deixa de existir oficialmente em 1928.
Artistas: Piet Mondrian (1872-1944) e Theo van Doesburg (1883-1931).

Futurismo - surgiu como movimento literário a partir do manifesto escrito em 1909 pelo poeta Marinetti, mas logo recebeu adesão de artistas e outros intelectuais. De raiz fortemente italiana o futurismo colocava-se contra o passado burguês e tradicional, glorificando o mundo moderno, a ciência, a técnica, a velocidade, a máquina e os meios de comunicação como o cinema. De forte aspecto político esteve associado também ao fascismo e ao nacionalismo. A pesquisa do movimento e o dinamismo são elementos marcantes das obras deste grupo.
Artistas: Umberto Boccioni (1882 - 1916); Luigi Russolo (1885 - 1947).

Abstracionismo
- movimento liderado por Wassily Kandinsky, surgiu em 1910 e defendia o uso de uma linguagem puramente abstrata, alcançando ritmo e dinamismo através da cor e das formas. Uma expressão artística tipicamente não-figurativa, sem a busca por uma representação da realidade como é vista.
Artista: Wassily Kandinsky (1866-1944).

Arte moderna no Brasil

A arte moderna no Brasil tem como marco simbólico a Semana de 1922, realizada em São Paulo. O evento foi organizado por intelectuais e artistas por ocasião do Centenário da Independência e declarava o rompimento com o tradicionalismo cultural na literatura, na música e nas artes plásticas. As discussões sobre uma renovação artística vinha de antes deste evento com exposições isoladas de artistas brasileiros, mas convencionou-se considerar o ano de 1922 como marco principal dessa emancipação artística. Entre os participantes da Semana de Arte Moderna estavam os artistas Anita Malfatti (1889 - 1964), Di Cavalcanti (1897 - 1976), John Graz (1891 - 1980), Vicente do Rego Monteiro (1899 - 1970), Victor Brecheret (1894 - 1955) entre outros.
Entretanto, apesar do contato direto de muitos artistas brasileiros com as vanguardas européias, nesse momento, não se tratava de inovações significativas para arte brasileira. Novas expressões artísticas surgiram, principalmente a partir de 1930, associadas a um interesse pelas temáticas nacionais e por nosso passado cultural e social. Os artistas influenciados pelas vanguardas e por esse momento cultural nas principais cidades do país estabelecem estilos próprios não se enquadrando especificamente em nenhum dos movimentos da arte moderna.

domingo, 5 de agosto de 2012

Impressionismo

IMPRESSIONISTAS

"Venice Twilight" - Caude Monet




O IMPRESSIONISMO foi um movimento iniciado em 1870, em Paris, por um grupo de artistas que tinham algumas características em comum. Gostavam de pintar ao ar livre, retratando a natureza e os efeitos de luz sobre ela. Como a luz muda muito depressa, pintavam rapidamente, dando pinceladas ligeiras e suaves. Negavam os temas bíblicos e orientais, muito explorados até então, e preferiam retratar temas da vida cotidiana.

Os impressionistas não se preocupam com os temas sociais e políticos e nem mesmo em retratar a realidade como ela é. Com a invenção da máquina fotográfica, o artista começa a assumir outra função na sociedade. Agora ele quer retratar a realidade como ele a vê.
Os impressionistas foram muito criticados por tudo isso, e começaram a organizar suas próprias exposições (1874 a 1886). N a primeira delas o quadro de Claude Monet, Impressões: o Nascer do Sol, sugeriu ao crítico Louis Leroy o nome de Impressionista para denominar esse grupo de artistas, com um certo tom de desprezo.

Impressão: O Nascer do Sol - Claude Monet

Monet pintou, durante um ano, cinquenta imagens, em horários diferentes, da Catedral de Rouen, reproduzindo a incidência da luz. Assim, ele pretendia analisar as diferentes influências que a luz pode exercer sobre a percepção da realidade.

No impressionismo as figuras não tinham contornos nítidos. Ao olharmos uma obra impressionista de perto vemos pinceladas separadas que produzem a sensação de manchas sem contorno.

Observe algumas obras em que Édouard Manet retratou de seus colegas impressionistas:

O Balcão - Manet (A mulher sentada é a pintora Berthe Morisot)




Claude Monet Pintando em seu Barco-Estúdio- Édouard Manet



 
A aula de Dança - Edgar Degas

Conhecido como "O pintor das bailarinas".


Interessante notar a presença da figura feminina no fazer artístico desse período. O tema das obras da artista Berthe Morisot, abrangem o universo feminino.

"O Berço" (1872) é uma das obras primas da pintora impressionista francesa Berthe Morisot. Nela, uma jovem vigia devotadamente seu bebê que dorme no berço. A expressão de amor e ternura implícitos nessa pintura é conseguida não só pela cuidade disposição das figuras, mas também pela sutil harmonia de cores e pinceladas. O cuidado na representação dos tecidos, tal como o véu sobre o berço e a cortina de cetim atrás da mulher, combinados com uma luz homogênea e com a frontalidade da obra aumentam a intimidade desta cena.
O Berço - Berthe Morisot



Acho fantásticas as produções do Impressionismo, sobretudo as obras de Berthe Morisot. Acredito que toda mulher deve se identificar com o trabalho de Morisot, pois afinal, mostra um universo que nenhum artista poderia retratar tão bem como uma mulher!

sábado, 23 de junho de 2012

O que é arte?


Esse texto apresenta pensamentos filosóficos sobre a arte.



O que é Arte Naïf


A Arte primitiva ou naïf é tipicamente brasileira e está fortemente vinculada à arte popular nacional, mas ainda não é devidamente valorizada internamente. Cabe lembrar que se convencionou chamar arte primitiva a que é produzida por artistas não-eruditos, a partir de temas populares geralmente inspirados no meio rural. Já quando o tema é urbano, costuma-se utilizar o termo naïve ("ingênuo", em francês), que se pronuncia "naíf", e ganha especial relevância entre artistas franceses e haitianos para designar os pintores que rejeitam as regras convencionais da pintura ou não tiveram acesso a elas.
Os dois estilos, porém, têm em comum as cores vivas e uma imaginação, estilização e poder de síntese levados para a tela com uma técnica aparentemente rudimentar. Em linhas gerais, pode-se dizer que a arte naïf brota do inconsciente coletivo, mantém-se em constante renovação e se deixa penetrar por influências eruditas, embora conserve sua natureza própria. Sabedoria e sonho se irmanam em obras difíceis de definir sob uma única catalogação.
Mas o que seria essa pintura de raízes populares? Para o crítico de arte Américo Pellegrini Filho, a arte popular se caracteriza pelo autodidatismo, por técnicas rudimentares adquiridas de modo empírico, pela espontaneidade e liberdade de expressão, e informalismo (ausência de aspectos formais acadêmicos, como composição, perspectiva e respeito às cores reais).
A arte naïf vem, pouco a pouco, ganhando espaço na mídia. Em 1974, os franceses lançaram um selo com um quadro do mais famoso dos pintores naïfs, Henri Rousseau, enquanto, na Suécia, caixas de fósforos já foram enfeitadas com imagens criadas por Skum, um pintor ingênuo esquimó. Além disso, há museus especificamente de arte naïf, em Laval, na França; em Luzzara, na Itália; em Figueras, na Espanha; em Esquel, província de Chubut, na Argentina; e, em Heblime, na Iugoslávia.
MárioTavares Chicó, em seu Dicionário da pintura universal, localiza os pintores naïfs "perto dos pintores amadores e confundindo-se, muitas vezes, com eles, relacionados também com os criadores de uma pintura popular, os primitivistas distinguem-se por uma posição estética definível à margem da arte erudita, tradicional ou inovadora. Esta é encarada por eles com alguma dose de ingenuidade, não apenas imitativa (caso comum nos amadores) – mas capaz de revelar, por frescura de imaginação, novas possibilidades expressivas, influenciando assim a arte contemporânea."
O alfandegário aposentado Rousseau (1844-1910) foi valorizado pelos intelectuais de vanguarda franceses, como o dramaturgo Alfred Jarry, o poeta Guillaume Apollinaire e os pintores Robert Delaunay e Pablo Picasso, e influenciou os surrealistas. Graças a ele, outros pintores primitivistas foram se impondo, conquistando a crítica e adquirindo uma posição dentro da História da Arte. Basta citar que o Museu de Arte Moderna de Paris tem uma sala especial para os naïfs, onde se encontram, ao lado de Rousseau, Vivin (1861-1936), Séraphine (1864-1942) e A. Bauchat (1837-1938), entre outros.
Especificamente em relação a Rousseau, o ensaísta Robert Goldwater, em Primitivism in Modern Art, vê no pintor francês o uso de uma tradição formal aceita para fins puramente estéticos; ou seja, o artista cria porque isso lhe dá prazer. É uma necessidade vital. Por isso mesmo, geralmente não existe a preocupação em se filiar a escolas ou de freqüentar cursos acadêmicos. "Essa atitude comum em relação a diferentes materiais plásticos gera admiração da crítica tanto em relação aos aborígenes como aos novíssimos primitivos", diz o pesquisador.
Para o crítico de arte Romildo Sant’Anna, professor do Instituto de Biociências, Letras e Ciências Exatas da UNESP, câmpus de São José do Rio Preto, há um diálogo entre a arte dita erudita e a naïf: "Esses artistas populares, ingênuos e primitivos são alicerces da cultura. É através dos naïfs que muitas vezes a chamada Arte Oficial vai se alimentar; é bem forte que germina a seiva mais cristalina, e dela se bebe, quando nos cansamos de viver num mundo de ilusões e aparências. É nessas pinturas que fala a voz do excluído. Assim como fazem nos países realmente cultos, devemos dar vivas aos naïfs do Brasil". "A arte naïf documenta novas formas e novas maneiras de aprender e expressar os mistérios insondáveis da vida com extraordinária vitalidade, espontaneidade e beleza", conclui João Spinelli, professor do Instituto de Artes da UNESP, câmpus de São Paulo.
Nos EUA, a pintura primitivista nasceu da tradição dos limners – retratistas amadores dos séculos XVII a XIX – e foi adquirindo posição de relevo graças a nomes como Grandma Moses (1860-1961), J. Frost (1852-1929), H. Poppin (1888-1947) e J. Kane (1860-1934).
O que aproxima todos esses artistas, sejam franceses, norte-americanos ou brasileiros, é a consciência da autonomia do espaço pictórico, o uso expressivo e ornamental das cores, o toque onírico que diferencia o universo criado da realidade e o sopro poético presente nos quadros.
Na III Trienal de Arte Popular de Bratislava, em 1972, na então Tchecoslováquia, por exemplo, o Brasil se destacou ganhando o prêmio de melhor representação nacional. "Na ocasião, surgiu uma nova tentativa de nomenclatura, porque toda arte popular foi agrupada sob o nome de arte ínsita, do latim insatus, inato. No entanto, nos últimos anos, o termo naïf superou todos os demais, sendo aceito internacionalmente", conta o crítico Geraldo Edson de Andrade.
Há até quem diga que os quadros dos primitivistas se assemelham à pintura de crianças. Anatole Jacovsky discorda e estabelece as diferenças: "A pintura das crianças não é obra de arte. Para elas, não passa de divertimento, enquanto para os primitivistas trata-se do objetivo de suas vidas. Eles abolem o tempo e remontam às fontes, a esses paraísos infantis perdidos e, afinal, reencontrados. O naïf começa onde morre a criança".
O crítico de arte Martin Green, ao discorrer sobre arte naïf, afirma que a arte conhecida como primitiva é privada de passado e futuro. "Apropria-se do instante e o imortaliza para sempre. É fruto de uma pura tensão artística, não de uma preocupação comercial: o que aparece é o sentido de alegria e estupor perante o mundo, como se o estivéssemos olhando pela primeira vez. Essa pintura é o primeiro bater da existência."
O ensaísta iugoslavo Oto Bihalji-Merin, em El Arte Naïf, julga que a essência e o caráter da arte naïf brotam no campo anímico da inocência e da simplicidade. "Se o artista renuncia a elas, põe em perigo o clima específico de sua arte. Ao longo dos anos ou décadas, pode aperfeiçoar sua técnica e mover-se com maior liberdade em termos da composição. Porém, se sua sensibilidade e receptividade diminuem, começa a se repetir e a produzir em série, podendo ocorrer a perda da ingenuidade e da espontaneidade imaginativa. O interessante da pintura naïf é que se trata de um estilo que não se aprende. Ele nasce com quem o executa. Cada pintor naïf tem um estilo próprio e nos obriga a entrar em contato com a criança pura que existe em nosso interior. Isso porque as imagens naïfs podem tanto ser fantasias delirantes, como caricaturas grotescas ou hiper-realistas."
Como não é pintura acadêmica, não se estuda, mas se sente. Marcada por imagens do cotidiano e pela pureza de traços, cores e formas, a arte naïf espalha-se por França, Haiti, Iugoslávia, Itália e Brasil, mantendo um mercado bem específico. "A arte naïf, ao não se incluir no variante vaivém dos estilos, manifesta-se como uma arte submetida às suas próprias leis. Não é uma arte contra os modernos, apenas uma parcela artística mais subestimada", diz Bihaljin-Merin. "Na obra dos pintores naïfs, não há perspectiva, o desenho é rústico e quase não há mistura de cores, já que eles não têm conhecimento técnico", diz Geraldo Edson de Andrade, co-autor, ao lado de Jacques Ardies, do livro Arte naïf no Brasil.
Para Ardies, a arte naïf é um estilo que existe há milênios, desde quando o homem desenhava cenas de caça nas paredes das cavernas. "Os artistas naïfs são forçosamente autodidatas no sentido que eles não receberam influência ou dirigismo de um professor de Belas Artes. Eles começam a pintar por impulso e procuram resolver as dificuldades técnicas com meios próprios, sendo perdoados quando as suas figuras não são perfeitamente desenhadas ou quando aparecem erros de simetria e perspectiva. Porém, a experiência da prática aos longo dos anos pode proporcionar ao pintor naïf uma técnica apurada e certeira", explica Ardies.
"A pureza com que pintam mostra que eles não estão querendo provar nada, apenas exprimir o sentimento por meio do pincel. Essa é a força da arte deles", completa Lucien Finkelstein, fundador do Museu Internacional de Arte Naïf (Mian), no Rio de Janeiro, criado, em 1995, num casarão do Bairro de Cosme Velho, com o maior acervo do mundo no gênero, reunindo cerca de 8 mil obras de 130 países, incluindo aqueles em que a arte naïf é mais forte, como Iugoslávia, Haiti e Equador, e de todos os Estados brasileiros.
Para Ardies, especializado em arte naïf desde 1979, o destaque da arte primitivista reside justamente na total liberdade de criação do artista, que se expressa com espontaneidade e com inocência. "Em geral, o artista naïf oferece uma visão interior, repleta de cor, criando um mundo para si próprio. No Brasil, o movimento cresceu a partir de 1937 com Heitor dos Prazeres, Cardosinho e Sílvia. A arte naïf brasileira, portanto, não toma emprestada a inspiração da vanguarda parisiense, mas reflete uma realidade nacional. Sem mimetismo, extremamente rica e variada, é autêntica e, na maioria das vezes, otimista e alegre. Ela reflete o país tropical, generoso em sua vegetação, aberto em sua gente. Não existe país que melhor sirva a este estilo. Hoje, pela diversidade entre as regiões e os povos que a compõem, a arte brasileira tem seu lugar de destaque no cenário mundial".
Qualquer estudo sobre a arte naïf brasileira deve passar por Heitor dos Prazeres (1898-1966), parceiro de Noel Rosa na célebre música Pierrô apaixonado e premiado na I Bienal Internacional de São Paulo, em 1951, em cujo júri estava o crítico e historiador Herbert Read, um dos nomes mais respeitados da historiografia da arte mundial.
Em Bienais posteriores, Grauben Monte Lima, Elisa Martins da Silveira e José Antonio da Silva estiveram presentes. No exterior, a pintora Iracema Arditi foi uma das maiores responsáveis pela divulgação da pintura naïf, principalmente pelas várias exposições que organizou na França.
José Bernardo Cardoso Jr., o citado Cardosinho (1861-1947), admirado por Portinari e com uma obra no Museu de Arte Moderna de Nova York (Moma); Chico da Silva (1910-1985), descendente de índios, menção honrosa na Bienal de Veneza, em 1966; o índio Amati Trumai, descoberto pelos irmãos Villas-Boas no Parque Indígena do Xingu, e Antonio Poteiro, oleiro de profissão e ceramista de talento que chegou às telas estimulado pelos pintores Siron Franco e Cleber Gouveia, são nomes obrigatórios da arte naïf nacional.
Há ainda Maria Auxiliadora, (1935-1974), doméstica e passadeira descoberta pelo especialista alemão Ronald Werne na Praça da República; Lia Mittarakis (1934-1998), que ao ter um de seus quadros como capa da revista Time dedicada à ECO -1992, conferência mundial do meio ambiente realizada no Rio de Janeiro, foi a primeira artista brasileira a ter uma obra reproduzida nessa revista; Elza O. S., célebre por pintar jovens vestidas de noiva, sonho pessoal que nunca realizou; além de Rosina Becker do Valle Pereira, cuja inspiração reside no folclore brasileiro, e a ex-secretária executiva Helena Coelho, artistas ligados, desde 1992, às Bienais de Arte Naïf do Brasil, realizadas pelo Sesc de Piracicaba. "Nossa idéia é ser um centro de referência dessa arte no Estado", afirma Antônio do Nascimento, curador da Bienal Naïfs do Brasil,
"A descoberta do mundo das tintas e dos pincéis acaba se transformando, para uma parcela significativa desses artistas, em uma ótima oportunidade de serem aceitos no seu grupo e de se integrarem à sociedade. E, quando conseguem, aumenta a possibilidade de eles serem reconhecidos e valorizados, independentemente de suas origens, dos seus padrões culturais e dos seus bens materiais", argumenta Nascimento.
O psicanalista Carl Jung chegou a afirmar que "Os pintores naïfs representam os últimos ecos da alma coletiva em vias de desaparecimento". O colecionador Lucien Finkelstein concorda: "Afirmo com plena convicção que, fora de nossas fronteiras, os pintores naïfs do Brasil são autênticos porta-bandeiras da pintura brasileira de todas as tendências e de todas as épocas".
A grande questão é o que especialistas em arte, como os conceituados Louis Pauwels, Selden Rodman, Max Fourny, Anatoli Jacovski, Heléne Renard e H. Wiesner vêem na obra naïf. O crítico Enock Sacramento responde: "Experts de visão acurada, freqüentadores das Bienais de Paris e de Veneza, da Documenta de Kassel e da FIAC, perceberam logo que a maioria das manifestações da vanguarda mundial não levava a nada, apesar de glorificada momentaneamente pela mídia e apresentada como ‘arte de ponta’. Pouco a pouco, os críticos internacionais estariam mais dispostos a aceitar a arte naïf". "Eles se tornaram, de fato, mais sensíveis ao fascínio da arte bruta, sincera, espontânea, calorosa, colorida e fortemente temperada do pintor naïf", finaliza Sacramento.
"O Brasil é um berço da pintura ingênua. As solicitações sensoriais criadas por um país tropical e por seu folclore, ligadas à liberdade gerada pela arte moderna, fizeram surgir nos campos e nas cidades milhares de ingênuos — a maioria sem qualquer expressão. Sobram poucos, uns trinta, cujas qualidades vão além do simples colorismo bruto e das incorreções anatômicas para chegarem à arte propriamente dita", avalia o crítico paulista Flávio de Aquino.
Encontrar talentos no universo dos chamados primitivos é um grande e fascinante desafio. Para isso, é preciso conhecer o maior número possível de artistas do Brasil e do Exterior, buscando as características que tornam alguns desses pintores expoentes do que há de artisticamente melhor, dando-lhes destaque não como meros naïfs, mas colocando-os entre os principais nomes da arte universal, independente de categorias, estilos e nomenclaturas.

sábado, 16 de junho de 2012

Fovismo

La Danseuse jaune (1912) de Alexis Mérodack-Jeanneau (1873-1919). Musée des Beaux-Arts d'Angers.
Fovismo ou fauvismo (do francês les fauves, 'as feras', como foram chamados os pintores não seguidores do cânone impressionista, vigente à época) é uma corrente artística do início do século XX, que se desenvolveu sobretudo entre 1905 e 1907. Associada à busca da máxima expressão pictórica, o estilo começou em 1901 mas só foi denominado e reconhecido como um movimento artístico em 1905. Segundo Henry Matisse, em "Notes d'un Peintre", pretendia-se com o fovismo "uma arte do equilíbrio, da pureza e da serenidade, destituída de temas perturbadores ou deprimentes".




Características

O fovismo, movimento principalmente francês, tem como características marcantes a simplificação das formas, o primado das cores, e uma elevada redução do nível de graduação das cores utilizadas nas obras. Os seus temas eram leves, retratando emoções e a alegria de viver e não tendo intenção crítica. A cor passou a ser utilizada para delimitar planos, criando a perspectiva e modelando o volume. Tornou-se também totalmente independente do real, já que não era importante a concordância das cores com objeto representado, e sendo responsável pela expressividade das obras. Os princípios deste movimento artístico eram:
· Criar, em arte, não tem relação com o intelecto e nem com sentimentos.
· Criar é seguir os impulsos do instinto, as sensações primárias.
· A cor pura deve ser exaltada.
· As linhas e as cores devem nascer impulsivamente e traduzir as sensações elementares, no mesmo estado de graça das crianças e dos selvagens.
Características da pintura:
  • Pincelada violenta, espontânea e definitiva;
  • Ausência de ar livre;
  • Colorido brutal, pretendendo a sensação física da cor que é subjetiva, não correspondendo à realidade;
  • Autonomização completa do real.
  • Uso exclusivo das cores puras, como saem das bisnagas;
  • Pintura por manchas largas, formando grandes planos;

 Principais figuras do movimento

Raoul Dufy; Roualult Georges; Maurice de Vlaminck.

 

Origem do nome

Este grupo de pintores escandalizou os contemporâneos, ao utilizar nos seus quadros cores violentas, de forma arbitrária. A denominação do movimento deve-se ao crítico conservador Louis Vauxcelles, que, no Salão de Outono de 1905, em Paris, comparou esses artistas a feras (fauves). Havia ali uma escultura acadêmica representando um menino, rodeada de pinturas neste novo estilo, o que o levou a dizer que aquilo lhe lembrava "um Donatello entre as feras". Tal denominação, inicialmente de carácter depreciativo, acabou por se fixar e passou designar o movimento.
O campo da criação artística é atingido fortemente pela Revolução Industrial. As mudanças são tão rápidas que seria impossível adotar os cânones artísticos anteriores. Neste meio não é mais permitido o estudo profundo, é preciso ingressar na corrida artística. As amarras criadas por normas sagradas buscam agora um novo propósito: pintar as sensações que despertam o estado de espírito no livre curso dos impulsos interiores. Muitas vezes o aprendizado é questionado. É a época da glorificação do instinto. O meio artístico gira em torno de um novo mundo. Está em ebulição. Multiplicam-se novos temas a respeito da arte, surgem novos comerciantes de quadros, críticos e exposições particulares. O artista possui, diante de si, cada vez mais informações em razão das mudanças e dos acontecimentos de sua época.
Os pintores fovistas receberam influências de Van Gogh, através de seu emocionalismo e ardor passional pelas cores exacerbadas, e de Gauguin, com seu primitivismo e visão elementar da natureza. A nova estética é obedecer aos impulsos instintivos ou as sensações vitais e primárias. Criar desobedecendo a uma ordem intelectual, onde as linhas e as cores devem jorrar no mesmo estado de pureza das crianças e selvagens, desobedecendo às regras tradicionais da pintura. Evitam a ilusão da tridimensionalidade. Agora a tela se apresenta plana, obtendo apenas comprimento e largura. Baseiam-se na força das cores puras.
A realidade é deformada com a finalidade de produzir o estado de espírito do artista diante do espetáculo oferecido pela movimentação dos reflexos dos tons vivos sobre a água e os galhos retorcidos… A nova geração de artistas busca recomeçar sem se preocupar com a composição. Na ânsia de pintar o estado de graça, muitas vezes aplica-se a tinta diretamente na tela, onde os vermelhos, os amarelos, os verdes uivam e antecipam o gosto moderno pela cor pura. É o novo espírito de síntese, deixando de lado o desenho e a forma, tornando-se deformadores, criando contrastes ou harmonia de coloridos inexistentes na realidade do mundo visível. Não se deixam escravizar pelos aspectos visuais da realidade. A nova arte surge como verdadeira libertação do real e é construída pelas sensações visuais impulsivas do artista.